Fins

Tinha passado a tarde no sítio que guardava tantas memórias. Aquele sítio tinha assistido às nossas gargalhadas imparáveis, a lágrimas, abraços, a sentimentos de protecção. Ali havim crescido enormes amizades. As bancadas de pedra, juntamente com o relvado e o sussurro das árvores em volta haviam assistido a um dos nossos primeiros beijos.
Agora encontrava-se vazio. Não havia sinais nem das amizades, nem dos beijos. Somente permaneciam pedaços de uma mesa onde em tempos se pôde jogar matraquilhos mas que agora se encontrava despedaçada. Também podiam ver-se vidros estilhaçados, bocados dos objectos mais variados, beatas apagadas e maços de tabaco vazios e amachucados.
Ali parecia que tudo tinha perdido vida. Tudo era vazio, despedaçado, apagado, amachucado. Tal como se encontrava o meu coração, que ao ver tudo aquilo fez com que se abrisse ainda mais o buraco que se encontrava no meu peito.
Senti uma saudade enorme de tudo o que estava à minha frente e mais ainda de tudo o que tinha vivido ali e as lágrimas começaram a cair que nem cascatas silenciosas. Não pude contê-las. Deixei-me levar pelos pensamentos e fui caíndo, indo de encontro aos destroços que estavam no chão. A dor tornou-se mais forte e já não a suportava.
E ninguém imaginava que ali no chão se encontrava um corpo que se encontrava na maior das agonias.
Os últimos meses vieram à minha memória e vi-os passar a correr por entre todas as putras lembranças. Outra pontada de dor no meu coração fez-me levar a mão ao peito. Gritava pelos nomes de quem já só restavam fantasmas. Via-os ao meu lado, mas não conseguia tocar-lhes. Estavam apenas na minha memória.
Nesse momento tremia e gritava num desepero que parecia não ter fim. As lágrimas continuavam a cair. Precisava do meu melhor amigo ali de novo. E do outro fantasma que estava na minha memória e que me assombrava os sonhos todas as noites. Tão importante como o primeiro, mas mais distante.
"Não vão voltar" pensei para mim e sem dar conta soltei o que me pareceu ser um uivo de dor mais forte que os anteriores.
Tentei levantar-me, mas a minha força "pregou-me uma rasteira" e voltei a cair. Não ia sair dali, por isso aconcheguei-me puxando os joelhos para o peito e deixei-me ficar.
Voltei a abrir os olhos quando ouvi o telemóvel tocar. Mas não queria sequer saber quem era. Acabei por tirá-lo do bolso e percebi que enquanto tinha estado naquela aflição, ele não tinha parado de tocar. Desliguei-o. Queria escutar os sons que a Natureza me trazia ali. Foi então que a dor voltou.
Ouvia agora na minha cabeça todas as conversas que havíamos tido ali. E as lágrimas voltaram a cair, fazendo com que mergulhasse no sofrimento que havia vivido horas antes. Agora doía mais. Já não conseguia sequer respirar. Era o fim, não ia sofrer mais.
Tentei abrir a a boca para dizer algo, mesmo sabendo que não havia ali ninguém para me ouvir, mas os soluços não o permitiam. Então, limitei-me a pensar: "a morte é pacífica, fácil. A vida é mais difícil." e dediquei ainda uns pensamentos aos homens da minha vida: "amo-te. Não, amo-vos! Aos dois. Para sempre, seja lá isso até quando for".

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