Possibilidades

Mais uma vez fui recebida como se de minha casa se tratasse. sabia que os miúdos não estavam, só me restava esperar que também não houvesse sinal dele.
A mãe disse-me que entrasse e deixasse o presente no quarto, por isso deduzi que não houvesse mais ninguém em casa. Os meus pés não precisavam de ser conduzidos, era como se uma força invisível os encaminhasse até lá.
Mal empurrei a porta e olhei em meu redor, percebi que estava enganada: lá estava ele, deitado com o computador portátil sobre as coxas vendo as coisas de medicina e com uma concentração que eu não quis de maneira nenhuma perturbar, por isso decidi ficar ali, imóvel, a observá-lo. Tinha tantas saudades de estar assim tão perto e poder assistir a cada movimento dele. Deixava-me completamente fascinada, apesar de ser um simples humano.
Pousei o saco e, como é óbvio, acabou por tirar os olhos do que eu pensava ser o mesmo estudo de sempre… os ossos, as vértebras, a matéria de estudo de sempre! e olhou-me fixamente. Não esperava que o fizesse, mas mais uma vez surpreendeu-me e veio até mim sem dizer uma única palavra.
Respirei fundo e pareceu-me ouvir o seu nome sair da minha boca com um sussurro. Fechei e abri os olhos lentamente e, como que por instinto, peguei-lhe no pulso. Baixei o olhar à espera da sua reacção negativa, mas continuava a olhar-me. Aproximou-se. Tanto que conseguia sentir a sua respiração. Não libertou o pulso como eu esperava e, com a mão que se encontrava livre, acariciou-me a face e fez com que levantasse o olhar até ao dele. E foi automático. Beijámo-nos como nunca o tínhamos feito. talvez por nunca termos estado tanto tempo afastados nas condições de o fazer.
Empurrou-nos em direcção da porta com o simples objectivo de assegurar que a fechava e ninguém entrava. Nem saía. De seguida, pegou-me no braço como que a pedir gentilmente que caminhasse de novo até junto dele para de seguida me pegar ao colo como eu costumava observá-lo a fazer com a prima de dois anos.
Não me apercebei de que tinha libertado toda a sede dele que havia em mim. O mesmo aconteceu com ele. Deixei de ouvir os ruídos exteriores e até mesmo os sons dos sites que estavam em pausa à espera de serem consultados novamente por alguém que se interessasse por eles.
Revelou-se completamente, como se tivesse sido possuído e a única coisa que conhecia ali além do seu jeito, era o seu corpo, que naquele momento eu não sabia onde acabava e onde começava o meu. Nem queria saber. Naquele corpo estava um homem que eu tinha desconhecido até aquele dia. E o mais incrível tinha sido eu a fazer-lhe aquilo.
Não importava mais nada. Eu amava-o e ele estava ali comigo porque sentia o mesmo. À sua maneira, eu sempre o soubera. Deixei os meus pensamentos de lado e levantei a cabeça que se encontrava deitada sobre o seu peito para voltar a observar a sua expressão serena. Ele abriu os olhos, tocou-me no cabelo e pediu desculpa. Eu percebi o porquê, mas não queria que ele tocasse naqueles assuntos agora que estávamos ali os dois como se não houvesse mais nada para lá daquela porta. E ele percebeu isso quando viu o meu olhar. Voltando a acariciar-me a face, um gesto que era só dele, beijou-me a testa e sussurrou algo que eu entendi como um "amo-te tanto, minha ranhosa". Fechei os olhos, sorri para mim mesma, aconcheguei-me melhor nos seus braços e suspirei. "Eu também."

Caso para dizer: "Continua a sonhar miúda!"

Sem comentários:

Enviar um comentário